Bahia

ENTREVISTA: 'A pandemia mostrou que é possível trabalhar de qualquer lugar'

Do México, Bruna Neves conversa sobre anywhere office, conceito que indica a possibilidade de trabalhar de qualquer lugar. Do outro lado da tela, o jornalista fala de sua casa, em Salvador, numa videoconferência mediada por uma equipe em São Paulo. Trabalhar de qualquer requer um outro tipo de estrutura e o que a WeWork, onde Bruna Neves é Chief Product Officer (CPO), propõe são soluções flexíveis, que estão sendo cada vez mais demandadas após a pandemia. 

Os novos tempos trouxeram comportamentos diferentes e acentuaram algumas demandas. “O que mais buscam conosco é um espaço para reunir as equipes”, conta Bruna, referindo-se a salas para reuniões e espaços para convivência. Além disso, completa, ainda existem certas demandas que precisam do ambiente de um escritório. E aí, para não ficar com a despesa de manter um ambiente fixo para usar apenas uma ou outra vez, a ideia é oferecer diversas opções de espaços, que podem ser contratados por diárias ou até mesmo por hora.

Para trazer uma amostra do que oferece ao mercado, a WeWork está a partir de hoje com o seu escritório-itinerante na Pituba, em Salvador, e posteriormente, em Trancoso. O truck é apenas uma estratégia de marketing para marcar a chegada da empresa à Bahia, através de escritórios parceiros. “A escolha do Carnaval para chegar em Salvador não foi aleatória, queremos demonstrar para pessoas de diversos lugares do Brasil e do mundo que estão na cidade para aproveitar a festa que é possível adaptar a rotina de trabalho a qualquer lugar”, explica Bruna. 

Qual é o produto de vocês?
A WeWork era uma empresa que tinha como modelo de negócios o aluguel de longo prazo do prédio, fazia a obra e locava em contratos mais flexíveis para empresas, no modelo segunda a sexta. Naquele tempo, um contrato mais curto ou flexível era mais raro. A pandemia chegou e mudou totalmente o nosso negócio. A gente vê cada vez menos pessoas neste modelo, de segunda a sexta, das 9h às 18h. Então tínhamos 12% do público trabalhando em modelo híbrido, super nichado com empresas de inovação. E passamos agora para 66% de empresas neste formato. A pandemia foi um período extremamente difícil, mas é a escassez que traz a inovação, então nós criamos novos produtos para atender a nova forma de trabalhar. Quando a gente passa para um modelo em que um dia você está em casa, no outro no escritório e depois em qualquer lugar, a demanda por tecnologia muda muito. A pandemia mostrou que ficar em casa é muito bom, mas que a gente também precisa do presencial, então o híbrido veio para ficar. Pensando nisso, lançamos uma gama de novos produtos, onde é possível alugar até por hora, passando pelo nosso produto que é o Workpass, semelhante ao de academias de ginásticas em que é possível malhar cada dia em um lugar. A gente lança este conceito, de que é possível trabalhar de qualquer lugar do mundo sem perder a qualidade e a estrutura. 

Ainda é necessário ter alguma estrutura?
Em algumas situações é necessário. Tem dias em que ficar em casa é muito bom, mas em outros não. Tem pessoas que precisam separar a vida pessoal da profissional, existem várias demandas diferentes. Mas eu queria lembrar que até para encontrar as outras pessoas é fundamental. O Workpass é o carro-chefe da gente no anywhere working. Já oferecíamos com a capilaridade da WeWork em seus prédios em todo o mundo, mas percebemos que a dinâmica dos talentos mudou muito. Antigamente, você tinha a contratação das empresas em São Paulo e nas grandes capitais e todo mundo tinha que se mudar para lá. Eu passei por isso. A pandemia mostrou que é possível trabalhar de qualquer lugar. 

Foi coincidência a chegada do escritório-itinerante na semana do Carnaval?
A gente percebeu que ter espaços no Rio e em São Paulo não era suficiente. Lançamos o marketplace para dar agilidade a este processo, através da capilaridade dos nossos parceiros. Aí pensamos, como contar para o Brasil que a WeWork está em todos os lugares? O Truck vem ligado a essa campanha. Priorizamos começar pelo Nordeste, onde temos uma grande demanda das empresas que já estão com a gente no São Paulo e no Rio. Elas diziam que precisavam de espaços em outros lugares. Não é uma coincidência começar por Salvador e Trancoso numa das semanas mais cheias do ano. O Truck é um escritório-itinerante, com ar-condicionado, café, happy hour, tudo que tem num escritório. Essa brincadeira que queremos fazer com a ideia de dar liberdade para a pessoa escolher onde quer trabalhar. Queremos que o trabalho se adapte à vida das pessoas e não mais o contrário. É saudável sair de casa. A gente não vê o home office como concorrente, só queremos deixar claro que pode ser um dia em casa, outro em qualquer lugar. Imagina ir para o Carnaval três dias antes e poder trabalhar tranquilamente até o início da festa. 

Essa mudança de comportamento do mercado em relação aos escritórios é definitiva?
A dinâmica nunca mais voltará a ser a mesma e isso é muito bom porque ela melhora a qualidade de vida. Quando a gente olha os dados da WeWork pré-pandemia e hoje, eu já tenho um fluxo de gente nos prédios 20 vezes maior do que tive, com uma receita 47% melhor. Mas o que chama atenção? Antes era a mesma pessoa de segunda a sexta-feira no mesmo escritório. Agora, a dinâmica mudou tanto que um dia é uma pessoa, no outro é alguém diferente. A gente vê o fluxo de venda dos nossos prédios retornando, mas com uma nova dinâmcia, é mais espalhado pela cidade, não é mais a mesma pessoa. Temos muito mais usuários para alcançar um mesmo volume de fluxo. Os grandes centros ainda seguem com lugares voltados para escritórios, porque têm muitas empresas amarradas nos contratos de longo prazo e precisam manter. De modo geral, as pessoas não precisam mais estar de segunda a sexta no mesmo local. Essa dinâmica nova envolve muito mais qualidade de vida. As empresas estão percebendo perdas no modelo 100% remoto, um pouco na parte cultural, de entrosamento dos times, então o caminho é híbrido. 

Onde vocês estão aqui na Bahia?
A plataforma é aberta, então qualquer empresa de coworking ou passe flexível que queira colocar o inventário com a gente pode fazer isso. Hoje fazemos tanto a venda dos escritórios, como também os aluguéis pontuais dos espaços. Já temos parceiros em Salvador, Lauro de Freitas e Feira, mas queremos estar na Bahia inteira. A Bahia é um polo de talentos e não apenas na capital, nossa ideia é chegar em qualquer lugar. 

A solução de vocês é acessível a pequenas empresas e profissionais liberais?
Totalmente e isso é parte da mudança de dinâmica. Antes a empresa era muito associada a empresas de inovação e o empreendedor individual ou uma micro e pequena empresa não conseguia pagar por este escritório. Hoje já conseguimos operar com um valor muito menor e isso abre um leque para as pequenas, sem ter que se comprometer com o aluguel caro e de longo prazo. É possível usar uma hora, pagando com o cartão de crédito. Tem também quem compra o passe e usa em qualquer lugar e até pequenas e médias empresas que compram o pass para oferecer aos funcionários como um benefício. 

Qual é o custo pelo uso dos espaços?
A diária num coworking gira em torno de R$ 100, o aluguel de uma sala de reuniões varia, mas o preço é a partir de R$ 60 por hora, a depender da localização. Nossos passes, que são as autorizações para uso, começam a partir de R$ 499. 

Em termos de estrutura o que é mais demandado?
Vemos uma busca muito grande por espaços para troca. O que tira as pessoas de casa para o escritório é a possibilidade de uma interação significativa. Eu diria inclusive que pior coisa que uma empresa pode fazer é obrigar os times a irem em dias diferentes, porque faz a pessoa pegar trânsito, ir para um lugar que não é o que escolheria para ficar em contato por um aplicativo de videconferências. Temos uma demanda muito grande por espaços para reuniões, alguns até mais criativos e não só mesas e cadeiras. Temos escritórios, salas de reuniões, salas de descompressão, espaços para trocas e locais para planejamento e brainstorm. Uma coisa muito interessante é que cresce a demanda por áreas para eventos, com a ideia de pelo menos uma vez por mês estarem todos juntos num lugar.  É muito interessante analisar todas as novas necessidades que nascem com as novas formas de trabalho. Do mesmo modo que a pandemia trouxe necessidades relacionadas à conectividade, para manter as pessoas online, agora vamos ver o mercado criar soluções para operar essa nova dinâmica. Escolher onde vai trabalhar precisar ser tão fácil quanto pedir um carro por aplicativo. O funcionário mais feliz, produz melhor e tem mais saúde mental.

Vocês já tem algum tipo de retorno em relação a essas questões?
Os dados de produtividade variam muito de uma empresa para outra. Mas o que a gente tem de dado é o quanto a saúde mental melhora. Para se ter ideia, 73% das pessoas gostariam de ter um vale escritório porque vêem valor em poder escolher onde trabalhar. Quando a gente olha para os dados novamente, vemos que menos de 5% têm acesso atualmente. 

Fonte: Correio

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