CPI convoca novamente motoboy e advogada de Bolsonaro

Foto: Pedro França/Agência Senado
Em reunião tumultuada nesta terça-feira (31), a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 aprovou os requerimentos de convocação da advogada do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), Karina Kufa, e a reconvocação de Ivanildo Gonçalves da Silva, motoboy apontado como funcionário da empresa VTCLog.
O motoboy, que segundo relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) fez saques em espécie de quantias milionárias da conta da VTCLog, deveria ter prestado depoimento nesta terça-feira (31), mas uma decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Kassio Nunes Marques desobrigou o comparecimento dele no Senado.
Durante esta manhã, os senadores também apontaram que Ivanildo teria pago contas do ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias. O valor seria da empresa Voetur, do mesmo grupo da VTCLog. Os senadores Renan Calheiros (MDB-AL) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP), respectivamente relator e vice-presidente da CPI, mostraram imagens de Ivanildo em uma agência do banco Bradesco no momento em que alguns boletos do ex-diretor foram pagos.
A decisão de Nunes Marques permitindo que o motoboy não fosse à CPI foi divulgada por volta das 21h desta segunda, o que fez com que os senadores mudassem às pressas de plano, convocando a CEO da empresa, Andréia Lima, para prestar depoimento. Em nota divulgada pela manhã, contudo, a empresária afirmou que não poderia comparecer por estar em São Paulo. Os senadores acabaram fazendo uma reunião administrativa para aprovar os requerimentos de reconvocação de Ivanildo, a convocação de Karina Kufa e a quebra de sigilos da VTCLog.
A advogada Karina Kufa entrou na mira da CPI após mensagens extraídas do celular do lobista Marconny Albernaz revelarem que José Ricardo Santana, ex-secretário-executivo da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) participou de um jantar na casa de Karina, onde foi apresentado a Albernaz.
Os senadores apontam que Santana e Albernaz teriam atuado como lobistas da Precisa Medicamentos junto ao Ministério da Saúde. Durante o depoimento de Santana, na semana passada, os senadores perguntaram ao ex-secretário da Anvisa se ele tinha conhecido Marconny em um jantar na casa de Karina em 23 de maio. O depoente alegou não se lembrar, mas confirmou que conhece Karina e tem alguns encontros sociais esporádicos com ela.
Karina divulgou nessa segunda uma nota em que afirma que a CPI faz “malabarismos verbais” e que vincula seu nome “de forma irresponsável às supostas irregularidades na compra de vacinas pelo Ministério da Saúde”. A advogada afirma na nota que não é crime receber pessoas em sua casa.
“Fazer churrasco não é crime; conhecer pessoas não é crime; o anfitrião não está obrigatoriamente vinculado aos atos, anteriores ou posteriores, dos convidados”, diz Karina.
Quebra de sigilo
Os senadores também aprovaram um requerimento para quebrar os sigilos fiscal, telemático e bancário da VTCLog. A empresa está sob investigação na CPI por ter sido contratada pelo Ministério da Saúde para receber, armazenar e distribuir vacinas contra a Covid-19. Registros telefônicos de Roberto Ferreira Dias e de Andréia Lima indicam que os dois conversaram mais de 100 vezes.
A VTCLog firmou diversos contratos com o governo federal, a maior parte deles com o Ministério da Saúde. Os senadores suspeitam de irregularidades em relação às contratações com a Saúde, em especial de um contrato firmado quando Roberto Dias estava à frente da Diretoria de Logística.
Um relatório do Coaf obtido pelo R7 mostra que a empresa fez retiradas que sinalizam a realização de “saques em espécie de valores que aparentam artifício de burla para identificação do destino dos recursos”. O senador Humberto Costa (PT-PE) já havia afirmado que, até o momento, a CPI ainda não investigou a VTCLog com profundidade na prática. Segundo ele, informações novas surgem a todo instante na comissão, o que poderia justificar mais semanas de trabalho.
Fonte: Saúde R7




