Fiéis exaltam padre Ronaldo: ‘Me fez voltar a acreditar em Deus’
Na chegada à Igreja do Santo Antônio Além do Carmo, no Centro Histórico de Salvador, neste sábado (15), a pedagoga Tayane Lorena, de 29 anos, precisou fazer uma pausa antes de entrar. Era a primeira vez, em 21 anos, entrando ali sabendo que não encontraria mais o padre Ronaldo Marques Magalhães, que morreu no último domingo (9). Sua missa de sétimo dia, assim como o velório, lotou o templo. “Chegar e não encontrar o nosso pároco, depois de 20 anos sendo só ele, tá sendo ainda muito difícil”, desabafou Tayane, que, assim como outros paroquianos, vestia uma camisa estampada com o rosto do homenageado. “Nós nos deparamos com uma exposição com fotos dele, então, foi muito emocionante revê-las e lembrar daqueles momentos”, descreveu. A pedagoga, aliás, coleciona memórias com o frei pernambucano, a começar pelo fato de ter feito parte da primeira turma de Primeira Eucaristia conduzida por ele aqui em Salvador. “É uma bênção, pra mim, porque ele acompanhou a minha Primeira Comunhão, estava aqui na minha Crisma e também fez o meu casamento”, recordou, com carinho, Tayane, que se refere ao padre Ronaldo como ‘segundo pai’. Aliás, não era só na vida dela que o religioso exercia esse papel. Pelo contrário: seus laços com os fiéis iam além da paróquia. “Ele me fez voltar a acreditar em Deus, a frequentar a igreja e a acreditar mais em mim”, destacou o esposo de Tayane, o professor Fábio Seixas, 49. Durante a missa, o também professor José Lenilson, 44, não conteve as lágrimas. “A emoção é por causa do carinho que ele tinha pelas pessoas e pelos amigos. Mesmo com todos os problemas que você estivesse passando, ele te atendia muito cuidadosamente, como se nada estivesse acontecendo”, justificou ele, que tinha acompanhado o trabalho do padre Ronaldo no bairro por 19 anos. Mais do que isso, a aposentada Luzia Santana, 62, foi quem esteve ao lado do líder religioso até seus últimos dias de vida. “Eu digo que a minha amizade com frei Ronaldo foi uma conexão de almas. Ele fazia parte da minha família. Minhas filhas chamavam ele de ‘tio’, e minha mãe chamava ele de ‘filho’”, explicou Luzia. “Não tem como chegar aqui e não chorar, porque, por mais que a gente acredite na vida eterna, a presença física faz muita falta e ele sempre foi muito presente em tudo”, lamentou ela. Legado Fora a saudade, o frei pernambucano deixou um valioso legado à comunidade do Santo Antônio Além do Carmo, o que era exaltado por cada um que tecia comentários a seu respeito. Um deles foi o padre Jailson Jesus dos Santos, que presidiu sua missa de sétimo dia e está à frente da paróquia enquanto é aguardada a nomeação de um novo pároco pelo arcebispo de Salvador, o cardeal Dom Sergio da Rocha. “É um momento de saudade, mas também de alegria, porque nós temos a consciência de que Deus deu esse presente [o frei Ronaldo] à comunidade”, ponderou o padre Jailson. “Se nós o amamos realmente, o maior presente que podemos oferecer a ele nesse momento são as nossas orações, que podem ajudar aqueles que estão no processo de entrada na ‘Casa do Pai’“, pediu aos fiéis. “Frei Ronaldo revitalizou tanto a vida religiosa como a vida cultural, e o diálogo com a associação do bairro e até com outras religiões.” Na mesma ocasião, como forma de dar continuidade às ações sociais desenvolvidas por ele, foram arrecadados alimentos não perecíveis. Há 40 anos frequentando a paróquia, a catequista e ministra Carla Rúbia, 55, acredita que, a partir de agora, seja o momento de secar as lágrimas e ter resiliência para seguir em frente. “A nossa missão, hoje, é continuar o que ele construiu, porque o trabalho de Deus não para; a gente está sempre inovando e continuando essa tarefa”, enfatizou. Trajetória Nascido em 25 de dezembro de 1960, o padre Ronaldo Marques Magalhães foi ordenado presbítero da Ordem dos Frades Pregadores (Dominicanos), na Arquidiocese de São Paulo (SP), em 25 de janeiro de 1997. Em 2000, foi nomeado vigário paroquial de Cruz das Almas, no recôncavo baiano, e, em 2002, foi nomeado pároco da Paróquia Santo Antônio Além do Carmo. Em 2012, foi incardinado na Arquidiocese de Salvador. Além do trabalho na paróquia, exercia a função de vigário forâneo da Forania 1 e era membro do Conselho Presbiteral da Arquidiocese Primacial do Brasil. Padre Ronaldo morreu aos 62 anos. Ele estava internado havia 12 dias, devido a uma cirurgia cardíaca, era diabético e teve complicações após o procedimento. Sua morte foi confirmada por volta das 17h30 do último domingo. O corpo foi sepultado na terça-feira (11), na cidade natal do frei pernambucano, Pesqueira.
Fonte: Correio