Sem categoria

Entenda o fenômeno que fez shoppings se tornarem queridinhos das clínicas de saúde

A recepcionista Isabel Silva, 41 anos, saiu de casa para ir ao shopping, mas ela não furou a quarentena para perambular pelas lojas. Tinha consulta médica e a clínica fica no centro de compras. Uma pesquisa da Associação Brasileira de Shoppings Centers (Abrasce) revelou que 37% desses estabelecimentos no país tem um centro médico ou laboratório. Em Salvador, os oito maiores empreendimentos hospedam algum tipo de serviço de saúde.

Praticidade foi o que levou Isabel a marcar a consulta em uma clínica dentro do Shopping da Bahia. “O ponto de ônibus é perto e o metrô também, então, é mais fácil de chegar. O local também é mais seguro do que na rua. Sempre procuro marcar minhas consultas em clínicas que ficam em algum shopping”, disse.

O levantamento da Abrasce é de 2020, aponta que existem unidades de saúde em 1/3 dos 601 shoppings do Brasil, e que essa é uma tendência que está em crescimento. No Salvador Shopping, por exemplo, onde já existem seis clínicas e laboratórios, outras duas serão inauguradas em breve. No Salvador Norte Shopping apenas uma clínica ocupa uma área de 700 metros quadrados e oferece 34 tipos de especialidades.

O superintendente do Salvador Norte, Renato Martins, contou que a comodidade é o principal atrativo para empresários e pacientes. Ele disse que é natural do varejo as mudanças e adaptações à novas demandas, e que oferecer serviço de saúde nesses espaços é um caminho sem volta.

“O cliente tem a oportunidade de em um único empreendimento realizar compras, aproveitar entretenimento e serviços de saúde. Além disso, tem a questão da segurança e de um mix diversificado de produtos e serviços. No Salvador Norte a primeira clínica foi instalada em 2018 e estamos registrando crescimento mês a mês, mesmo durante a pandemia”, disse.

O presidente da Abrasce-BA, Edson Piaggio, contou que essa novidade começou há cerca de dez anos em Salvador e que os shoppings passaram por dois momentos de adaptação. O primeiro, foi quando o centro de compras começou a se transformar em espaço de lazer, com parques infantis e áreas para eventos. E o segundo, quando começou a congregar serviços, como as clínicas, laboratórios e afins.

“Os shoppings centers precisaram se adaptar porque os projetos originais não previam essas funções. Então, questões como estacionamento e mobilidade precisaram ser revistas. Os projetos de hoje já são pensados levando essas questões em consideração. E já existe outra mudança em curso no Brasil e que está chegando por aqui, que é a abertura de espaços religiosos dentro dos shoppings. Já existe em Feira de Santana e em uma unidade em Salvador”, disse.

Ele contou que o número de centros médicos tem crescido a cada ano nesses espaços por conta de alguns fatores. O aluguel desse segmento é mais barato que o das lojas convencionais. O cálculo é feito por metro quadrado e alterna de shopping para shopping, mas, em geral, essa vantagem associada a outros dois pontos têm atraído os empresários.

“A gente poderia pensar que a primeira é a segurança que o shopping oferece para a clínica e para os pacientes, mas ela aparece em segundo lugar. A primeira é a comodidade de ter vários serviços em um mesmo local. Isso atraí mais público e é bom para todo mundo”, disse Piaggio. Cerca de 420 mil usuários circulam pelos shoppings de Salvador todos os dias.

Vantagens
Os empresários listaram outras vantagens que impulsionaram a mudança. O responsável pelo departamento de Marketing do Centro Médico Bela Vista, Lucas Rossi, contou que o horário de funcionamento do shopping é outro elemento importante, e também o fato de não precisar estar atrelado a essa norma. Ele explica:

“O shopping abre às 9h, mas não precisamos seguir essa regra, podemos funcionar mais cedo. Além disso, como ele encerra às 22h, podemos ampliar o atendimento até esse horário, o que seria mais difícil de fazer em outros locais da cidade, sem ter a segurança do shopping”, disse.

Outro fator citado é a facilidade para encontrar estacionamento e de conseguir transporte público, seja ônibus ou metrô. “No caso do Centro Médico Bela Vista são seis clínicas e mais um laboratório, tudo no mesmo local. São 45 consultórios e mais de 30 especialidades. É uma estrutura enorme e que está dentro de um shopping”, contou.

A rede Clínicas Clivale foi pioneira nessa ideia. A primeira loja em um shopping de Salvador foi inaugurada em 1989 e a empresa continua sendo uma das que mais está usando desse modelo. Atualmente, a marca está presente em três centros da capital, está ampliando uma das unidades e planejando a abertura de outra loja.

O diretor executivo da empresa, Carlos Alberto Serravalle, contou que juntas as três unidades têm capacidade para 1,5 mil atendimentos por dia. “Além disso, inauguramos o primeiro Day Hospital em shopping do estado da Bahia, localizado no Salvador Shopping, em 2019, realizando procedimentos como cirurgia oftalmológica, ginecológica, gastro, geral, ortopedia, vascular, urologia e proctologia”, disse.

Para a aposentada Rosa Maria Anunciação, 71 anos, a explicação é simples. “O shopping virou uma cidade”.

Botox e tomografia
A tendência de migrar ou abrir unidades de saúde em shoppings centers não está restrita a laboratórios ou centro médicos de atendimento convencional. Em Salvador, já é possível aplicar botox nesses locais, em clínicas de estética. Assim como fazer procedimentos mais elaborados, como cirurgias.

O Salvador Norte Shopping afirmou que vai inaugurar três clínicas de estética até o final do ano. Enquanto isso, no Shopping Bela Vista o centro médico de mesmo nome, instalado em 2018, já realizada serviço de ressonância magnética e até tomografia computadorizada. Essa variedade de serviços facilita a vida do consumidor, mas deve ser observada com cautela.

Em nota, o Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia (Cremeb) afirma que o mais importante é observar se o estabelecimento de saúde está cumprindo todos preceitos estabelecidos pela Vigilância Sanitária e pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), em especial a Resolução nº 997/80 que normatiza esses serviços.

“Ademais, uma vez que a instalação de centros médicos em Shoppings Centers é uma tendência e visa facilitar a vida da população no acesso ao atendimento, o Cremeb não possui nenhuma objeção a essa prática”, diz a nota.

O presidente da Associação Bahiana de Medicina (ABM), César Amorim, fez uma avaliação positiva. “Esse segmento tem crescido bastante. Algumas unidades de shopping realizam até cirurgias. Eu vejo esse movimento com bons olhos, desde que estejam dentro da legalidade e sigam os protocolos. Todos ganham, pacientes e empresas”, disse.

A dona de casa Maria Isidória Nunes, 61 anos, concorda. Ela contou que sempre que vai ao médico faz as próprias observações e que reclama quando percebe alguma coisa fora do aceitável.

“Teve uma clínica que fui com minha filha que não tinha álcool em gel. Tinha a vasilha, mas estava vazia. Falei com uma atendente e ela repôs. A gente não pode se deixar impressionar pela estrutura. No final, o atendimento é o que importa”, afirmou.

Fonte: Correio

Botão Voltar ao topo